18
set
19

um horror na guerra

Olá!

Meu livro “Esta é a guerra do mundo” está para download grátis na Amazon pelos próximos dias.

Estou participando do Prêmio Kindle de Literatura.

Corre lá conferir!

#premiokindle

#amazon

#kindle

01
set
19

Linda (ou uma cachorra e seu menino)

É uma história, e eu preciso contá-la. Não tive coragem na época, mas o tempo passou, e hoje eu consigo falar.

Sábado, 1 de setembro de 2018.

Acordou antevendo o que aconteceria. Na verdade não havia nem dormido. Já começava a se conformar com a necessidade do que ia fazer.
Acompanhado de sua mãe, chegou ao veterinário, levando a pastora alemã no colo. Linda quase já não andava mais.
Ele era um misto de tristeza e desespero, tentava se agarrar a uma mínima esperança de que aquilo não fosse necessário, embora fosse uma esperança, ele sabia, sem sentido.
Esperando do lado de fora, a maca chegar para que transportassem Linda para a mesa da veterinária, ele a viu fazer suas necessidades na calçada, um pequeno amontoado mole e com sangue. O coração ansioso dele naquela hora acelerou, aquele efeito que pequenos disparos de adrenalina causam em pessoas ansiosas. Ele queria muito chorar, mas não conseguia.
O desespero era maior que o choro. Desespero, raiva e medo.
Quando a transportaram para a sala da veterinária e a deixaram repousando sobre aquela mesa fria de aço, Linda foi examinada por alguns minutos.
“Olha, com tramadol ela pode melhorar muito, até vai conseguir andar”, a veterinária comentou.
Aquele pequeno lapso de esperança finalmente havia morrido nele, e essa não era a única morte que ele sofreria naquele dia. A degenerativa artrose canina havia cobrado demais da Linda seu preço em dor e sofrimento.
“Ela já vem tomando há um tempo, doutora, e está assim”.
Consternada, ela entendeu.
Alguns minutos se passaram até a veterinária preparar todo o necessário para a eutanásia.
O desespero e o medo só aumentavam dentro dele, sua mãe, arrasada, não querendo testemunhar, saiu. Ele ficou. Não quis deixar sua melhor amiga de orelhas tortas passar por aquilo sem seu menino por perto. Acompanhou tudo. Foram quase 15 anos de amizade. Se lembrava de quando a conheceu, uma gigante de poucos meses, estabanada, de uma loucura carinhosa. Ali ele havia entendido o teor daquela amizade.
Quando a veterinária começou o procedimento anestésico, que antecede a injeção letal, ele não conseguiu mais se conter.
O choro já era maior que o desespero.
Conversava com a Linda, aos prantos, enquanto a via partir. Se manteve abraçado a ela, por todo aquele eterno instante. Conversava com ela, dizia a ela o quanto foi importante para ele, pedia desculpa, se lamentava por não poder fazer mais. A acariciava e falava e se desculpava, chorava muito. Chorava sem conseguir conter qualquer emoção, e nem queria. A dor era enorme. Queria era ter morrido junto.
E naquela manhã de sábado, o menino sofreu uma pequena morte. Vai levar na memória o momento em que segurava a cabeça dela nas mãos, no último abraço.

Linda, meu anjo de quatro patas, finalmente consegui falar sobre aquele dia. Sei o quanto você foi esplêndida.
Eu tenho saudades de você, terei por toda a vida.
Obrigado, sua bruta!

l. r. Silva

21
ago
16

ouro olímpico

Assim como muitas pessoas que conheço, detesto futebol. Não acompanho, não me interesso por campeonatos nacionais, nem sei a escalação atual do Palmeiras ou do LEC. Suspeito que jamais vou querer saber. Para dizer a verdade, muito dessa repulsa se deu graças a um fator que passa distante do passional, sendo antes de cunho irracional: torcedores e suas reações. É uma grande enxurrada de merda que acompanha o mais intenso esporte nacional. Não devia, mas é. Ânimos exaltados, brigas, acidentes de trânsito, fogos de artifícios, gritaria desenfreada, enfim. O futebol é um grande bolo com todos os ingredientes capazes de me afastar do intento de acompanhar uma partida. Mas lá estava eu…

Brasil e Alemanha, com direito a prorrogação e pênaltis. Na prorrogação, todo mundo saiu da sala, menos eu e meu velho. Dividimos a ansiedade, a expectativa, cada cobrança dos jogadores, cada gol convertido, cada goleiro dando seu melhor. Tudo isso diante de uma simples TV velha, de tubo, que falhava algumas vezes no meio daquela chuva com raios que caía na cidade. Ninguém queria ficar ali com a gente, mas nós ficamos.

Lá estava eu, dividindo esse momento com meu pai, um sujeito que, em sua perspicácia típica de torcedor, de quem sempre sabe do que está falando, no começo dos jogos disse: “fica todo mundo falando mal desse técnico, ele ainda vai ganhar essa olimpíada”. No momento do jogo, eu tentava entender muitas coisas, como as razões que nos levam a torcer por indivíduos de origem humildes, que superaram centenas de obstáculos para estarem ali, lutando contra o que o mundo trouxe de melhor, lutando por um ouro, prata ou bronze, seja no judô, na natação, na ginástica, no salto com vara, na canoagem. E, por estranho que pareça, me ocorreu “Por que não torcer pra esses caras também? A maioria deles é de origem pobre, de comunidades violentas, superaram centenas de obstáculos para estarem ali derrubando, jogo a jogo, o que o mundo trouxe de melhor”. E eu torci, acompanhado do meu velho. Vimos todos os tempos da prorrogação, vimos os pênaltis um a um, até que tudo estava terminado. E ele, virando em minha direção e estendendo a mão, disse “Toca aqui. Valeu!”. E eu o cumprimentei, mais emocionado pela reação individual de um torcedor que passa longe do triste perfil irracional, do que pelo resultado final do jogo. Mais emocionado por ter compartilhado desse momento histórico ímpar com uma figura que é referência em minha vida. Xingou, praguejou, se irritou, sim. Fizemos isso juntos. Aquele momento foi ouro.

.

20
abr
16

Bela, recatada, do lar… e de lutas.

Eowyn and the Nazgul

“Mas não sou nenhum homem mortal! Você está olhando para uma mulher.”

 

Há grandes mulheres na história, assim como há grandes mulheres do lar, que são grandes para seus filhos e filhas. Mulheres que lutam pelas suas mães e pais, que lutam pelos seus direitos, que lutam por simplesmente poderem ter justiça social. Lutar é o oposto de ser recatada. Há grandes mulheres que, vencendo todos os homens que se interpuseram no seu caminho, estão agora no rol dos que levaram a humanidade a outro patamar.

Mulheres belas são as que lutam! Diariamente! Em casa, nas ruas, no escritório, no fundo do oceano, num laboratório, nas universidades, na estação espacial ISS, na literatura, na boleia de um caminhão, na construção civil, enfim.

“Eu quero ser tudo que sou capaz de me tornar” dizia a escritora Katherine Mansfield.

Se há uma lição que precisamos aprender hoje é: ensinem suas filhas a serem guerreiras. Digam a elas que elas podem vestir uma armadura em vez do vestido, e que é essencial fazer isso e enfrentar o monstro do mundo, um monstro que nenhum homem pode ferir, apenas uma mulher. Não abracem essa balela de recatada e do lar. Sejam o que vocês quiserem ser, sejam independentes. Vistam a armadura, é hora de apontar a espada, com um olhar de desafio, para o Nazgûl fascista cujas palavras têm o poder de manipular. Sejam vencedoras onde nenhum homem foi capaz. Aceitem a vida, lutem a vida, e com vigor! Nas palavras de Lygia Fagundes Telles, “Já que é preciso aceitar a vida, que seja corajosamente”. Tornem-se mulheres, donas de si mesmas. Quando Simone de Beauvoir diz “não se nasce mulher: torna-se” ela se refere particularmente a esse espírito de perseverança, de tornar-se (ir aonde for preciso).

Ensinem suas filhas a não serem inferiores a homem algum, digam que elas podem ser princesas sim, mas como a princesa Léia, ou a guerreira Éowyn, ou a Katniss Everdeen. Ensinem suas filhas a serem salvadoras de si mesmas, de seu próprio mundo, princesas que lutam. Claro, não há nada de errado em ser princesa Disney, se for por sua própria vontade. Do contrário, bora lá pegar a espada e o escudo, que o Nazgûl se aproxima!

18
jul
14

Laura e os relâmpagos

Laura veio para perto de onde eu estava, se sentou do meu lado na grama e, no alto de sua inocência, me perguntou “tio, o que é aquilo no céu?” Assim começa nossa história, com uma pergunta simples, de criança. Muito curiosa para saber o que eram os relâmpagos ininterruptos que rasgavam o céu escuro. Pensei em dar a resposta simples, direta e real, mas ela queria algo mais. Acho que era atenção, ficar um pouquinho ali, ouvindo, falando, descobrindo coisas interessantes, como se fosse gente grande num diálogo importante. Foi por isso que inventei uma história e também para aproveitar um pouco o momento. “É relâmpago”, falei, interessado em saber onde ela iria com aquilo.

“E o relâmpago é o que?”, disse ela bem curiosa, agarrando a manga da minha camisa. Aquela menininha queria uma resposta séria e acho que foi o que dei a ela. Peguei a pequena no colo e falei “você não conhece a história do mago e do dragão que vivem nas nuvens? Nossa tenho até medo de contar”, emendei pra impressionar. A pequena estalou os olhos, como se quisesse com esse gesto revelar seu espanto. Engraçado como criança se surpreende e se assusta fácil. Peguei-a no colo e continuei a contar a história, garantindo a ela que não havia perigo, pois era uma batalha que ocorria há muitos anos e sempre a tempestade acabava passando. “Então, lá no alto mora um mago num castelo enorme, cheio de torres e portões de ferro, que fica em cima de uma nuvem. E ele vive viajando com o castelo pelos céus à procura do dragão. Ou será o dragão que vive à procura do mago?” ela pareceu tentar assimilar a dúvida que eu transmitia fingindo preocupação enquanto olhava para as nuvens distantes. “Bem”, continuei, “acho que os dois ficam procurando um ao outro, pra no final, travar uma batalha nos céus e o resultado é esse que você vê: muitos relâmpagos, trovoadas e a chuva”. “E o dragão morre?”, engatou ela.

“É uma luta feroz, a mais feroz que alguém possa imaginar, mas não precisa se preocupar com o dragão, pois se ele tivesse vencido, acho que teria acabado com as cidades todas que existem por aí. E você pode ver que ainda estamos vivendo aqui e nenhum dragão destruiu nossa cidade”. Ia concluir a história assim mesmo, mas ela perguntava coisa atrás de coisa, curiosa que só ela. Perguntou por que isso acontecia, quantas vezes acontecia por mês, por ano, essas questões infantis. “Por que o dragão quer matar o mago?”, sua voz fina saía pausada, ela tomava fôlego entre as palavras. “Acho que não sei te responder essa, mas sei que toda vez que chove é assim. Um monte de nuvens se juntam porque o dragão solta tanta fumaça que cobre o mundo inteiro. E aí o mago o encontra e os dois começam a lutar. É por isso que você vê relâmpagos, que são os poderes que o mago tem pra lutar contra o dragão malvado e fumacento”.

“Todas aquelas luzes, todo aquele barulho. O mago de um lado soltando descargas e mais descargas de relâmpagos em cima do dragão que ataca o velho com baforadas de fogo e fumaça, tentando feri-lo e cegá-lo”, continuei. “É estranho, pois tem vezes em que a luta dura um tempão e tem os dias em que a tempestade e a chuva vêm e vão rapidinho. Acho que quando é assim, eles brigam só um pouquinho e vão embora, chateados ou machucados, cada um pro seu canto, entende?”.

“O dragão é bonito, tio? É igual o do filme?”

O que se pode responder a uma pergunta dessas? “Nunca vi o dragão nem o mago”, falei “só sei dessa história, porque me contaram assim. Acho que o dragão é malvado e feio, se quer saber minha opinião. E quer devorar todos nós, pois vive sempre com fome”. Vi que ela ficou assustada e tentei corrigir. “Só que o mago sempre vence, não te disse antes? Não precisa se preocupar, ainda estamos vivos, olha só”. “Ainda bem, tio!” ela soltou, aliviada.

Nesse ponto Laura me perguntou por que chovia se o mago ganhava a luta e por quê o mago não limpava o céu com o poder dele. “Acho que é porque o mago não tem esse poder de limpar o céu de tanta fumaça, e a chuva é porque o mago usa um poder de água pra lutar contra o dragão, daí essa água espirra pra todo lado e vira chuva, entendeu?” ela fez que sim com a cabeça, mas eu sabia que ela tentava imaginar toda a cena fabulosa. “logo mais vai chover, mas não se preocupe, tá bem? O mago ganha do dragão, pois é mais esperto”. Ela devolveu “ele é bonzinho, então?”

“Acho que sim, porque senão, não ajudaria a gente toda vez que o dragão viesse”. “É o Papai do Céu que pede pra ele ajudar a gente?”, ela quis saber. Soltei um “acho que sim” meio despreocupado e instantes depois ela continuou “tô com medo, tio”.

Disse a ela para não ficar assustada, pois estaríamos lá pra cuidar dela até ela crescer.

.

..

….




ALGUNS DIREITOS RESERVADOS

UMA FICÇÃO

...seu tema é a relação entre a realidade do mundo que habitamos e conhecemos por meio da percepção e a realidade do mundo do pensamento que mora em nós e nos comanda. O problema da realidade daquilo que se vê — coisas extraordinárias que talvez sejam alucinações projetadas por nossa mente; coisas habituais que talvez ocultem sob a aparência mais banal uma segunda natureza inquietante, misteriosa, aterradora — é a essência da literatura fantástica, cujos melhores efeitos se encontram na oscilação de níveis de realidades inconciliáveis.

..................................

- CONTOS FANTÁSTICOS DO SÉCULO XIX (Ítalo Calvino)

..................................

MEUS BLOGS

TEMPUS FUGIT

maio 2024
D S T Q Q S S
 1234
567891011
12131415161718
19202122232425
262728293031  

QUANTOS JÁ VIERAM

  • 9.965 Visitantes desde Julho de 2008

Parceiros Fantásticos

Seja fã no BlogBlogs

BlogBlogs